Glayci Kelli Reis da
Silva Xavier
Professora da rede
pública, pós-graduada em Linguística e tutora do Cederj
Aline Pinto de Brito
Professora da rede
pública, pós-graduada em Linguística
Keilla da Fonseca
Casimiro
Pós-graduada em
Linguística
INTRODUÇÃO
Pesquisar é o ato de procurar, diligentemente, respostas a indagações ou
informações. A pesquisa contribui para a construção do conhecimento. Na
Educação, a pesquisa deve ser uma atividade capaz de produzir um conhecimento
“novo” a respeito de um determinado assunto, relacionando as informações
obtidas ao conhecimento de mundo. Dois fatores são essenciais para que isso
ocorra: o aluno deve ser sujeito da educação e o professor, o mediador desse
processo.
Alguns imaginam que esse desafio começa apenas na fase acadêmica, quando
o estudante é levado a produzir textos próprios, sobretudo uma monografia ou
tese. No entanto, essa prática deveria começar desde cedo. Grande parte da
defasagem do ensino se dá pelo fato de que os alunos são forçados a repetir o
que está nos livros, sem muitas vezes encontrar significado para isso.
Consequentemente, outro fator que traz grandes dificuldades no momento de
redigir textos acadêmicos é falta do hábito da escrita. Escrever é um hábito
que vai sendo aprimorado no seu exercício contínuo.
Este trabalho tem o propósito de mostrar a importância de a pesquisa ser
trabalhada desde o Ensino Fundamental; existem coisas que, quando são
aprendidas desde cedo, fazem enorme diferença por não deixar lacunas na
formação do indivíduo.
O QUE É PESQUISA?
Pesquisa é a busca do conhecimento a partir de várias fontes, analisadas
sob diferentes aspectos, tanto para aprender como para ampliar o conhecimento.
A pesquisa é uma atividade que está presente em vários momentos do nosso
cotidiano; pode ser realizada individualmente ou em grupo. Requer interesse,
tempo, disponibilidade, senso crítico, critérios. De acordo com Marques (2006,
p. 95), “pesquisar é buscar um centro de incidência, uma concentração, um polo
preciso das muitas variações ou modulações de saberes que se irradiam a partir
de um mesmo ponto”.
Uma pesquisa implica o preenchimento de pelo menos três requisitos
(Luna,1991):
- a existência de uma pergunta que se deseja responder;
- a elaboração de passos que permitam obter a informação necessária para respondê-la;
- a indicação do grau de confiabilidade na resposta obtida.
Além disso, o pesquisador relaciona as informações obtidas ao seu
conhecimento de mundo. Na pesquisa, a apropriação do conhecimento se dá através
de:
compreensão → interpretação → nova compreensão.
A pesquisa é o fundamento de toda e qualquer ciência.
A PESQUISA COMO FONTE PARA (RE)CONSTRUÇÃO DE
CONHECIMENTO
Os teóricos da educação já sentiam a necessidade de preparar os alunos
para “irem além” – além do que os livros falam, além das possibilidades que
lhes são oferecidas. Eles precisam pesquisar, experimentar, escrever,
reescrever, corrigir seus textos etc.
Portanto, precisamos preparar nossos alunos para uma constante busca do
conhecimento. Alunos e professores, sujeitos da “ação” – pesquisa, experiência
– devem participar simultaneamente de todo o processo escolar, em que ambos
ensinam e aprendem.
Nesse sentido, é necessário que tanto o aluno quanto o professor se
utilizem da pesquisa como prática cotidiana e que as técnicas de pesquisa sejam
discutidas e elaboradas para que este seja um processo consciente.
É importante que o professor ensine a seus alunos como pesquisar e que,
inicialmente, aborde temas que despertem o interesse deles. Dessa forma, estará
contribuindo para despertar nos estudantes o gosto pela pesquisa.
Além disso, a busca por informações deve ser estimulada nos mais
diversos níveis e nos mais diversos meios, como livros, revistas, mídias
eletrônicas, internet etc.
Por fim, é necessário que o projeto de pesquisa tenha um “produto
final”, um texto com as informações obtidas. Um texto é um instrumento poderoso
de intervenção na sociedade. Bagno (2004, p. 33) ressalta que “saber que seu
texto não será lido apenas pelo professor ou por um grupo de colegas certamente
levará o aluno a querer preparar um texto bem elaborado, bem escrito, agradável
de ler, coerente e interessante”
No entanto, o professor deve ter cuidado para que esse produto final não
se transforme em motivo de “pressão”. Além disso, se o aluno não possui o
hábito de escrever, corre o risco de permanecer na “colcha de retalhos”
(Fazenda, 1991), uma escrita desconexa, reveladora da dificuldade de escrever e
da ineficiência na interpretação de textos.
Mas, se não fazemos uso da escrita, como aprimorá-la?
DESENVOLVENDO O HÁBITO DA ESCRITA ATRAVÉS DA
PESQUISA
Importa
escrever para buscar o que ler; importa ler para reescrever o que se escreveu e
o que se leu. Antes o escrever, depois o ler para o reescrever. Isso é
procurar; é aprender: atos em que o homem se recria de contínuo, sem se
repetir. Isso é pesquisar (Marques, 2003, p. 90).
Escrever é o princípio da pesquisa; é uma arte de vital importância.
Para isso, é necessário que o aluno possua o hábito da escrita desde cedo, mais
precisamente no Ensino Fundamental, objetivando prepará-lo para os estudos
posteriores.
De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – Língua
Portuguesa, é nesse período escolar que o aluno passa a conhecer a
estrutura de um texto, sua finalidade e para quem se destina. Com isso,
espera-se que o aluno utilize “mecanismos discursivos e linguísticos de
coerência e coesão textuais, conforme o gênero e os propósitos do texto”. É
solicitado ao aluno também que ele saiba utilizar diferentes fontes de
informação e recursos tecnológicos para adquirir e construir o conhecimento.
Ora, nenhum desses pré-requisitos será de fato válido, se o professor não
tornar a produção de textos uma atividade frequente na sala de aula.
Aprender a escrever, no sentido de construção do discurso, requer uma prática
constante, que somente é aperfeiçoada com o tempo. No Ensino Fundamental, o
professor deve despertar no aluno o prazer da escrita, norteando-o na inserção
de novos elementos e recursos textuais conforme seu crescimento intelectual. Os
PCN reconhecem que, nesse período, é comum o aluno apropriar-se de um
discurso já pronto, preferencialmente de autores consagrados ou de fontes de
pesquisa adequadas. Entretanto, cabe ao professor trabalhar com extremo cuidado
esse tipo de exercício, ressaltando para o aluno a importância dos aspectos
coesivos e coerentes inseridos no texto. Caso contrário, o simples exercício de
transcrição de textos sem um acompanhamento torna-se vazio de sentido para o
aluno, é cansativo e não o estimula a expor seus próprios argumentos e opiniões
no ato da escrita.
A prática e o hábito de escrever começam a ser exigidos, de fato, no
Ensino Médio. De acordo com os PCN, espera-se que os alunos tenham
clareza sobre:
- o que têm a dizer sobre o tema proposto, de acordo com suas intencionalidades;
- o lugar social de que ele fala;
- para quem seu texto se dirige;
- de quais mecanismos composicionais lançará mão;
- de que forma esse texto se tornará público.
Para que o aluno tenha clareza sobre esses tópicos, é necessário que ele
já tenha considerável maturidade no ato de escrever, conseguindo inserir no
texto, de maneira crítica, elementos da sua vivência escolar e extraescolar.
Percebe-se então que o aluno não deve somente praticar a escrita, mas também
perceber a importância de comunicar-se de forma efetiva.
CONCLUSÃO
O presente estudo descreveu a importância de inserir o hábito da
pesquisa já no Ensino Fundamental. Ao formar um pesquisador, desde cedo ele se
torna capaz de “ir além”. Mas como mudar uma pedagogia baseada em procedimentos
que apontam para a acumulação de informações pelos alunos?
A busca por um ensino de melhor qualidade é tema constante de pesquisas,
debates e encontros de educadores. No entanto, não existe uma “fórmula mágica”,
capaz de transformar a Educação. Esta é composta por dois elementos principais,
os quais devem agir criticamente a todo o momento. O aluno deve ser sujeito de
sua educação, participando ativamente na busca pelo conhecimento. O professor,
por sua vez, deve ser o facilitador do processo intelectual do aluno.
É essencial para a trajetória do estudante que o hábito da pesquisa seja
estimulado e acompanhado desde a infância através de ações que agucem a
curiosidade, a sensibilidade e a capacidade de percepção e reforcem sua
autoconfiança.
A pesquisa, portanto, deve estar sempre presente nesse cenário:
pesquisar é a tradução mais exata do saber pensar e do aprender a aprender. Ao
aluno, gera autonomia; ao professor, permite estar em constante atualização,
levando-o a reavaliar a sua prática e, perante as mudanças que ocorrem,
reinventar o seu caminho.